O PARTO
O parto, por si só, já nos gera medo e ansiedade. Em uma situação em que sabemos que teremos pouco tempo como nosso bebê, o medo e a ansiedade se amplificam. Tentarei trazer informações sem tabu, apesar de saber o peso que cada palavra tem para quem está vivenciando isso (dói muito em mim usar certas palavras, mas elas se fazem necessárias).
Parte I – Planejamento do parto
Assim como em qualquer gestação, é importante que haja um plano de parto para que suas vontades sejam respeitadas. A humanização do parto não é frescura, é uma necessidade real e que, no caso de uma ARB, se torna vital.
Peça ajuda para seu/sua obstetra, caso a maternidade que você pretende ter seu bebê não tenha fornecido um plano de parto.
Minhas sugestões:
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Peça para mais de um familiar acompanhar seu parto, considerando a gravidade da situação;
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Se for católico, é possível que você ou seu acompanhante batize seu filho (procure um padre para orientá-lo), é simples e rápido (não tem rituais nem nada neste sentido, basicamente é falar as palavras que o padre vai orientar e fazer o sinal da cruz com um pouquinho de água benta);
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Se tiver outra orientação religiosa, pense em uma forma de aplica-la a este momento;
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Decida qual tipo de intervenção médica pode ser realizada em seu filho (se vai para UTI ou se fica o tempo todo com você – no meu caso, meu filho ficou conosco até sua partida);
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Peça o acompanhamento de um pediatra neonatal no parto;
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Caso tenha direito a um quarto separado, peça que seus familiares possam ficar lá (no meu caso, meus pais, sogros, irmãos e amigos muito próximos);
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Tire fotos e grave o parto (você pode querer ver ou não depois, mas tem que ter esta opção). No plano de parto, eu defini que não queria nenhuma foto dele sem vida (achava mórbido), mas hoje me arrependo. Todas as fotos que tenho do Vini são dele com vida. Garanta que seja uma pessoa que respeite as imagens e que você compartilhe apenas o que desejar;
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Após o falecimento do bebê, você pode solicitar que seus familiares que estão no quarto possam vê-lo (seu filho não será levado ao quarto, mas os familiares, de forma organizada pelo hospital, podem ser levados ao local onde o bebê está para conhecê-lo). Friso aqui a importância deste momento, pois o bebê ainda não está no caixãozinho. Seu semblante será de um bebê dormindo e é a oportunidade de seus avós/familiares pegarem no colo (caso queiram);
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Defina o tipo de cerimônia de despedida (haverá velório, cemitério ou crematório, etc). No meu caso, a despedida foi na cerimônia do crematório (as músicas escolhidas para este momento foram as que eu escutava diariamente na gestação, mas pode ser uma canção religiosa escolhida no crematório);
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Defina quem estará presente no momento da despedida;
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Passe seus desejos para uma pessoa que possa organizar tudo na hora, pois vocês, pais, não terão condições de cuidar disso;
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Caso a mãe deseje acompanhar a cerimônia de despedida, é preciso verificar esta possibilidade com o hospital, pois ela precisa ter alta médica, (afinal terá passado pelo parto). Eu optei não estar presente, apenas meu esposo, familiares e amigos.
Parte II – O Parto
No caso da ARB, a cesárea é a forma mais indicada para quem quer passar mais tempo com seu filho com vida (converse com seu/sua obstetra). Claro que não há garantia do tempo que o bebê ficará vivo (podem ser segundos, minutos ou horas). No caso do Vini, foram 107 minutos preciosos de vida.
Eu tinha medo de ser desesperador, mas nunca senti tanta paz na vida. Meu marido e minha irmã acompanharam o parto, foi um momento de mais puro amor. Nós estávamos com nosso filho nos braços e ele sentiu todo o nosso amor.
Parte III – Medos
Falarei de medos do desconhecido, da dor. As palavras serão fortes, mas eu gostaria de ter lido estas informações antes:
Síndrome de Potter: meu bebê tinha os pés tortos e estava mais amassadinho, mas não são deformidades absurdas e quem vê as fotos não consegue observar estes detalhes. Não tenha medo, pois seu bebê não terá deformidades assustadoras.
Choro: infelizmente o bebê não consegue chorar por causa do pulmão hipoplásico (o ar entra, mas não é possível fazer a expansão do pulmão). O bebê ficará com a pele mais arroxeada. Após o falecimento, o bebê não terá mais o aspecto arroxeado.
Acompanhamento: a pediatra irá verificar o tempo todo como estão os batimentos cardíacos do bebê. Com o tempo, os batimentos vão ficando mais fraquinhos. Pedi que ele ficasse em meu colo até o último segundo. O semblante do meu Vini era de muita tranquilidade.
Bebê sem vida: eu tinha medo de como seria estar com meu filho sem vida nos braços, mas, na hora, não tive uma preocupação com morte/vida, era apenas meu lindo e amado filho nos braços.
Olhinhos: meu Vini só abriu um dos olhos, mas pouco. Você pode sim abrir os olhinhos do seu filho.
Não sei se a vida é curta ou longa demais para nós, mas sei que nada do que vivemos tem sentido, se não tocarmos o coração das pessoas.
Cora Coralina